Título: Garotas de Vidro
Autora: Laurie Halse Anderson
Edição: 1
Editora: Novo Conceito
ISBN: 9788581630113
Ano: 2012
Páginas: 272
Antes de começar a resenha propriamente dita, eu preciso dizer que esse
livro não é um livro fácil. Não por conta da linguagem ou da narração, mas esse
livro é denso, é triste, é chocante, perturbador e maravilhoso! Maravilhoso
justamente por ser tão real, por mexer tão bem com os sentimentos do leitor.
Lia é uma garota. Uma garota complexa, mas cheia de definições. Ela é
gelada, ela é gorda, ela é magra demais, ela é doente. Lia tem um grave
problema de distúrbio alimentar. A anorexia se faz presente em sua vida, desde
que Cassie, sua (ex) melhor amiga propôs um desafio, ganharia aquela que
ficasse mais magra em um período determinado de tempo.
O que começou com uma aparente besteira de duas adolescentes, acaba
transformando-se em um enorme pesadelo. Não só para as meninas, mas para ambas
as famílias.
Mesmo sendo internada por duas vezes em clínicas de recuperação, Lia não
consegue se recuperar, justamente por não enxergar, em si, a doença. E tudo
piora quando Cassie é encontrada morta em um quarto de motel, sozinha, após
tentar ligar 33 vezes para ela, sem receber resposta.
Se Lia tivesse atendido aos
telefonemas, as coisas seriam diferentes? Cassie poderia ser salva? .
''Aqui está uma garota segurando uma faca. Há gordura sobre o fogão, sangue no ar e palavras raivosas empilhadas nos cantos. Somos treinados para não ver, não ver nada disso.... corpo encontrado em um quarto de motel, só...
Alguém arrancou as minhas pálpebras.''
A culpa pela morte de Cassie só agrava o estado da nossa protagonista,
que se encontra cada vez mais perturbada e sem controle. Ao negar a sua doença,
se obriga a seguir um regime rigoroso e cruel, onde contar calorias já não
funciona mais, o único número aceito por ela é zero.
A culpa, a vergonha e a frustração
fazem com que nossa garota apele para a automutilação, problema que ocorre, com
cada vez mais frequência, para aliviar seus tormentos.
Apesar de poder contar com a ajuda da
família, a relação de Lia com a mãe não é nada boa. E fica evidente, durante
alguns momentos da narração, a dificuldade que o seu pai e sua madrasta sentem
ao lidar com ela. Eles gostam e se preocupam com ela, mas em diversos momentos
simplesmente não sabem o que fazer. A única pessoa que parece ficar totalmente
à vontade com ela é Emma, sua irmã mais nova, com quem tem uma relação de muito
carinho e cuidado.
Agora a nossa garota precisa lidar
com as suas doenças, mágoas e situações mal resolvidas. Será que com a morte de
Cassie fará com que enxergue a gravidade do problema e enfrente-o ou, pelo
contrário, fará com que se destrua de vez?
“Garotas de Vidro” é um livro que eu
levarei para sempre na memória. Não só por contar uma história bonita, mas por
fazer com que Lia conte essa história para nós. Nós conhecemos essa história
tão especial pelas palavras dela, pelos pensamentos dela, pelos sentimentos
dela. É quase como se pudéssemos ouvir sua voz, seus pensamentos.
O livro passa uma sensação de
conversa, de confissão, como se eu fosse a única pessoa a conhecer a verdadeira
história, como se estivesse presente o tempo inteiro. Cada vez que ela jogava a
comida fora, cada vez que levantava de madrugada para correr horas na esteira,
cada vez que olhava pra balança e enxergava números que não existiam.
Eu li algumas resenha à respeito
desse livro e algumas delas diziam que o livro é confuso. Realmente, por
algumas vezes pode causar essa impressão, mas quem quiser ler “Garotas de
Vidro”, já têm que começar a leitura, conscientes de que é um livro escrito em
primeira pessoa, e quem o está narrando é uma garota confusa é uma garota
complexa e nada fácil de entender. Portanto, se o livro passasse a impressão de
clareza sempre, tranquilidade e sentimentos bem resolvidos, não seria real.
''Eles são idiotas. Este corpo aqui tem um metabolismo diferente. Este corpo aqui odeia arrastar as correntes que eles enrolaram ao seu redor. Uma prova disso? Com 45 quilos meus pensamentos estão mais claros, eu pareço melhor, me sinto mais forte. Quando eu atingir o próximo objetivo, vai ser tudo isso e mais. O Objetivo Número Dois é 43 quilos, o ponto perfeito de equilíbrio. Com 43 quilos, vou ser pura. Leve o bastante para andar de cabeça erguida, e carnuda o bastante para enganar todo mundo. Com 43 quilos, vou ter a força para permanecer em controle. Vou ficar de pé nas pontas escondidas das minhas sapatinhas de cetim de balé, fitas cor-de-rosa costuradas nas minhas canelas, e me erguer no ar: mágica. Com 40 quilos, vou planar. Esse é o Objetivo Número Três.'' Lia, Pág. 54Outro ponto positivo do livro é que, é evidente o cuidado com que a autora trata da doença, a pesquisa que ela faz antes de criar essa história. Visto que a autora se baseou em depoimentos de meninas que sofrem com a mesma doença, o trabalho ficou muito bem feito.
É extremamente importante que as
pessoas conheçam melhor essa doença que está cada vez mais presente na vida dos
jovens de hoje. A busca pelo corpo ideal pode ser tanto saudável quanto
perigosa. E apenas conhecendo a doença, somos capazes de ajudar e perceber
alguns sinais que ela dá.
Recomendo demais a leitura para todas
as pessoas, não só pelas informações contidas nela, mas principalmente pela
carga emocional que ela carrega.
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